Amor com ou sem carteira assinada? Maioria dos relacionamentos é do tipo “CLT”

Amor e trabalho têm mais semelhanças do que muitos imaginam. Para grande parte das pessoas, relacionamentos afetivos são valorizados justamente por oferecerem o que também se busca no mundo profissional: estabilidade, benefícios em dia e regras bem definidas — traços típicos em vínculos empregatícios da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Neste Dia dos Namorados, a Onlinecurriculo realizou uma pesquisa que faz uma reflexão sobre os vínculos amorosos a partir de conceitos do universo corporativo, como estabilidade, liberdade, entrega e encerramentos. Segundo a pesquisa realizada com usuários da plataforma, 94% dos participantes acreditam que a dinâmica das relações afetivas segue uma lógica semelhante à da vida profissional.

Dos participantes ouvidos, 56% afirmaram viver relacionamentos com vínculos mais formais, semelhantes a um contrato celetista. Ao InfoMoney, a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da instituição, explica que estar em uma relação que oferece segurança, bem-estar, acolhimento e senso de pertencimento segue sendo um diferencial importante, tanto para o fortalecimento do casal quanto para a qualidade de vida individual.

Ela observa que vivemos na chamada modernidade líquida, um contexto marcado pela instabilidade e pelo descompromisso, tanto em relações pessoais quanto profissionais. “Diante desse fracasso dos vínculos frouxos e temporários, parece que o ser humano volta a acreditar que vínculos com segurança, estabilidade e compromisso são os que realmente valem a pena e devem ser buscados.”

Vínculos empregatícios… no amor?

Mas, embora a maioria aponte estar com “carteira assinada” com o seu amor, outros formatos podem ser observados na vida a dois. Entre vínculos profissionais como “temporário” e “terceirizado”, por exemplo, 17% dos brasileiros compararam seus relacionamentos ao modelo PJ, com mais autonomia, menos obrigações e acordos flexíveis. 

Já 7,4%, por outro lado, revelaram ainda se sentir verdadeiros “estagiários” na arte de amar. Nesse caso, eles acreditam que estão entregando muito, recebendo pouco e tentando provar seu valor constantemente, assim como aquele profissional que está dando os primeiros passos na carreira.

Somente uma parcela pequena, de 6%, afirmaram já ter alcançado um vínculo afetivo sólido e duradouro, exatamente como o concurso público. Esse tipo de relação amorosa é entendida como aquela que exige esforço para conquistar, mas oferece uma vaga praticamente vitalícia no coração de alguém.

Já o temporário, que sabe quando o relacionamento vai começar e terminar, responde por apenas 2,6%. Veja o quadro abaixo:

Benefícios da relação amorosa

Já quando o assunto são os benefícios presentes nos diferentes “modelos de contratação”, os brasileiros destacaram o apoio emocional (51%) e a companhia para dividir a rotina (52,4%) como os aspectos mais importantes. 

Assim como no trabalho, os entrevistados revelaram que é a parceria do casal que faz tudo valer a pena. “Quem consegue mobilizar em alguém um interesse genuíno, verdadeiro, forma uma parceria que proporciona cumplicidade e crescimento de todos os envolvidos”, reforça Carmita.

Além disso, liberdade para ser quem se é, estabilidade no dia a dia e trocas justas também apareceram entre as principais prioridades. Isso demonstra como o amor, no fim das contas, funciona melhor quando todos os lados colaboram — e vai em linha com o raciocínio da professora de psiquiatria da USP.

Segundo ela, para uma relação ter sentido, não pode haver acomodação, tampouco uma postura de cada um por si. “A preservação do vínculo exige que haja espaço para o indivíduo, mas também um ‘nós’ onde as duas partes caminhem com um passo semelhante, em sintonia”, argumenta. 

Primeiro encontro ou entrevista de emprego? 

Assim como em uma entrevista de emprego, o começo de um relacionamento é um momento de apresentação e avaliação mútua. A constatação é tanto de Carmita quanto da pesquisa da Onlinecurriculo, que revelou que 32% dos entrevistados valorizam a clareza logo de início. 

As pessoas querem entender bem onde estão entrando, como quem busca uma vaga com descrição objetiva e expectativas bem definidas. Mas, na prática, a maioria ainda adota estratégias mais cautelosas (ou mesmo improvisadas) para se apresentar.

De acordo com 36,2% dos participantes, a preferência nos primeiros encontros é destacar o que têm de melhor, mas sem se aprofundar demais — apresentando as qualidades essenciais, mas guardando detalhes para as próximas fases do processo. Há também aqueles que admitem “dar uma valorizada” nas qualidades para impressionar (21,4%), numa tentativa de se destacar como o candidato ideal.

No entanto, seja no campo amoroso quanto no profissional, com o tempo, a convivência revela outras facetas das pessoas, e isso pode impactar negativamente a imagem criada. Carmita Abdo lembra que também é importante mostrar aquilo que ainda está sendo trabalhado em si. 

“Admitir imperfeições, reconhecer o que precisa ser melhorado e demonstrar o desejo de evoluir são atitudes que também encantam. Muitas vezes, a conquista acontece justamente por isso: por mostrarmos vulnerabilidades e o esforço de sermos uma versão melhor de nós mesmos.”

Até que a rescisão nos separe 

Se, para muitas pessoas, conquistar um coração se assemelha a ser contratado, o término pode ser visto como a rescisão. Quando indagados sobre como terminam seus “contratos amorosos”, o levantamento descobriu que, para os brasileiros, o cenário mais comum é o de encerramento por consenso. 

Mais de 55% afirmam que, na maioria dos casos, conversam, resolvem as pendências e seguem em frente sem mágoas. Sim, uma espécie de “acordo amigável”, em que ambas as partes encerram a relação com clareza e maturidade. 

Enquanto isso, há quem prefira sair voluntariamente: 26,6% costumam se demitir ao perceberem que o relacionamento não faz mais sentido, indo em busca de novas experiências. “A frase ‘já não faz mais sentido’ surge quando todos os envolvidos no relacionamento deixam de crescer na mesma direção, com interesses compatíveis e com vontade de evoluir juntos”, diz Carmita.

Mas nem todo fim é tão bem conduzido. Para 14,6%, seus vínculos românticos tendem a ser marcados por idas e vindas, discussões e assuntos mal resolvidos, como uma demissão turbulenta, cheia de ruídos e pendências emocionais. É o completo oposto de 12,6%, cujos relacionamentos terminam de forma abrupta, sem qualquer explicação — o famoso “ghosting”. 

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