
Em meio a uma disputa envolvendo o Grupo Petrópolis e a gestora R2C, o leilão da processadora de soja Imcopa se encaminha do prazo de conclusão. O certame atrai o interesse de investidores atentos ao desenrolar do litígio envolvendo os grupos, embora não dependa necessariamente da sua conclusão.
Entre os interessados pelos ativos da processadora estão grandes tradings globais e nacionais.
Em 2020, a Bunge chegou a arrematar os ativos da Imcopa, mas o edital foi anulado em 2021. A Cargill também demonstrou interesse pelo ativo em 2023. Segundo apuração, as duas empresas estão acompanhando o certame em andamento, bem como players de atuação exclusivamente nacional e asiáticos.
Valores arrecadados no certame, marcado para 3 de julho, serão destinados ao pagamento dos credores da Imcopa, em recuperação judicial desde 2013. O grosso desse valor é justamente o objeto da disputa entre o Grupo Petrópolis, da família Faria, e sócios da gestora R2C, Ruy del Gaiso e Renato Mazzuchelli.
Pelo modelo de edital proposto, o Grupo Petrópolis espera finalmente dar liquidez aos ativos da processadora, atualmente sob sua administração, mesmo que não haja uma resolução definitiva sobre a titularidade dos créditos.
Acontece que toda a parte devida ao principal credor — posto disputado pelos Faria e del Gaiso e Mazzuchelli — ficará em uma conta sob juízo após a concretização do leilão. Qualquer um deles só terá direito ao dinheiro após o trânsito em julgado do entrave jurídico, segundo as regras.
Já uma outra parte de R$ 14 milhões das dívidas da processadora pertencente ao BNDES e ao Voiter (do Banco Master) deve ser paga logo após o arremate.
O edital publicado pela justiça do Paraná no último dia 21 de maio determina que os ativos da Imcopa sejam leiloados no formato de Unidades de Produção Isoladas (UPI): trata-se de uma planta em Cambé, outra em Araucária e a marca de óleo de soja Leve.
Significa dizer que é possível fazer um lance apenas por uma das plantas, só pela marca Leve ou pela combinação delas. A soma dos lances mínimos pelas fábricas e pela marca é de R$ 1,67 bilhão.
A estrutura do leilão exime o eventual comprador de ônus ambientais, regulatórios, administrativos, penais, anticorrupção, tributária e trabalhista. Foi uma forma encontrada pelo Grupo Petrópolis para transmitir maior segurança ao eventual comprador e acelerar a aprovação do leilão.
A R2C diz em nota que “questiona judicialmente todas as irregularidades e deixará os potenciais interessados cientes acerca das ilegalidades do processo competitivo”. Segundo uma fonte próxima à gestora, um dos principais argumentos é de que a venda dos ativos geraria tributação sobre ganho de capital, contrariando a alienação dos ônus tributários definida pelo edital.
O Grupo Petrópolis rebateu o argumento em uma petição apontando que o recebimento dos recursos com a venda das plantas servirá para quitar os créditos fiscais e, caso insuficientes, os saldos serão convertidos em um futuro aumento de capital social. Prejuízos fiscais acumulados também seriam aproveitados.
- Leia também: Questão do IOF é sinal de governo Lula nos últimos estertores e desesperado
- Leia também: PIB do Brasil cresce 1,4% no 1º trimestre, impulsionado pelo agro
- Leia também: Patrimônio em Fiagros sobe mais de 200% em dois anos e atinge R$ 44,7 bi, aponta CVM
A R2C também questionou a “integridade dos ativos”, cujas plantas estariam “paradas há mais de um ano”. “As plantas da Imcopa estão paradas há mais de 1 ano, o que levanta dúvidas sobre a integridade dos ativos. “O cenário é agravado pela queda no valor das operações de esmagamento de soja e pela instabilidade econômica global, marcada por tensões tarifárias”.
Em nota, o Grupo Petrópolis informou que embora a produção da Imcopa esteja paralisada, suas plantas seguem capazes de operar e passam por manutenção recorrente.
Seus ativos têm capacidade anual para esmagar 1,5 milhão de toneladas de soja, produzir 240 mil toneladas de proteína concentrada e envasar 80 mil garrafas de óleo refinado por hora.
Procuradas, a Bunge e Cargill disseram não comentar rumores de mercado.
Disputa pelos créditos da Imcopa
Todo o imbróglio envolvendo a titularidade dos créditos da Imcopa gira em torno de um negócio feito em parceria entre o Grupo Petrópolis e os sócios da R2C há 10 anos: Faria procurou os dois gestores, del Gaiso e Mazzuchelli, para estruturar uma operação financeira e comprar os créditos da Imcopa no Brasil e no exterior.
Lá fora, em Luxemburgo, a gestora Crowned Capital seria gerida por um grupo de executivos próximos aos Faria — entre eles, os sócios da R2C. A ideia da família, alegam nos processos, seria ficar por trás de uma gestora com operação menor do que o Grupo Petrópolis e negociar a compra dos créditos com deságio por meio da estruturação de um fundo nomeado Agro 1, cuja Crowned era a única cotista. Faria aportaria o capital e receberia, por intermédio da gestora, os créditos relativos à recuperação judicial da Imcopa. O Grupo Petrópolis diz que esses créditos nunca voltaram.
Do lado da R2C, o argumento é de que o Grupo Petrópolis teria aberto mão da compra e permitido a venda para um terceiro, o que resultou no leilão de 2020. Entre idas e vindas do processo, a gestora passou pela mão dos dois grupos, sob alegação de fraudes na operação financeira.
Em 2022, o dono da Itaipava apresentou uma série de denúncias contra os até então diretores estatutários da Imcopa.
Em 2024, a juíza Mariana Gluszcynski Fowler Gusso, da 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial do Paraná, determinou que a administração da Imcopa retornasse às mãos do Grupo Petrópolis. A decisão foi posteriormente suspensa pelo desembargador Tito Campos de Paula. Quando saltou para a esfera Federal, o ministro Antônio Carlos Ferreira derrubou a liminar. Resumo: a Imcopa voltou para o controle dos Faria.
Agora, fontes próximas ao Grupo Petrópolis dizem que há expectativa pela conclusão do litígio entre outubro deste ano e o primeiro semestre de 2026.
O principal motivo para o otimismo foi uma desistência de recursos emitida por Ricardo Bocchino Ferrari em nome da Crowned, em dezembro de 2024. Em uma apelação registrada no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Ferrari alega ser o legítimo detentor e proprietário da empresa de Luxemburgo. No documento, ele destituiu da gestão da empresa Renato Mazzuchelli, Mikael Gutierrez Ruiz e Usama Ajan, então parte do quadro societário.
Ferrari pediu a revogação das procurações a advogados outorgadas pela antiga administração e deixou o caso nas mãos de Tiago Limongi. Na apelação, afirma que o fundo Agro 1 teria sido encerrado e seus direitos e deveres passaram para a titularidade da Crowned como cotista única. O valor da causa é de R$ 900 milhões.
Em Luxemburgo, representantes da R2C contestam a propriedade da Crowned Capital. O grupo alega ter exercido uma opção de compra sobre a companhia em 2024 e ser proprietário de 95% das suas ações.
A desistência de Ferrari no TRF-1 ainda ainda não foi homologado por um juiz. Também não houve decisão definitiva em Luxemburgo.
The post Leilão da Imcopa avança para mês definitivo em meio ao desenrolar de litígio appeared first on InfoMoney.
source https://www.infomoney.com.br/business/leilao-da-imcopa-avanca-e-grupo-petropolis-busca-resolucao-de-litigio-por-creditos/
0 Comentários